sexta-feira, 2 de março de 2012

Envelhecimento x Políticas de Saúde

Olá, tudo bem com você?

Como já havia tratado no artigo “Em breve o mundo será dos nossos avós” de 12/05/2010 em http://mente-em-acao.blogspot.com/2010/05/em-breve-o-mundo-sera-dos-nossos-avos.html, é fato que o crescimento da população idosa no Brasil, ocorre de forma radical e bastante acelerada. As projeções indicam que, em 2020, o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos, com 30 milhões de pessoas com mais de 60 anos.

Na verdade, o Brasil já é um “jovem país de cabelos brancos”. Tanto que a cada ano, 650 mil novos idosos são incorporados à população brasileira e isso é bom, pois as condições de sobrevivência melhoraram em nosso país, mas há o lado negativo dessa constatação. A maior parte destes idosos são portadores de doenças crônicas e alguns até com limitações funcionais.

Num curto espaço de tempo o Brasil passou de um cenário de mortalidade próprio de uma população jovem e de terceiro mundo para um quadro de enfermidades complexas e onerosas, típico dos países do primeiro mundo, aumentando de forma radical a procura dos idosos por serviços de saúde. Diferentemente dos jovens, a população idosa quando acometida por doenças, demanda mais internações hospitalares e maior tempo de permanência nesse regime, isso sem contar outras demandas resultantes das incapacidades funcionais que podem ocorrer.

Contudo, há estudos que revelam que as doenças, em especial as crônicas, e as incapacidades, não são conseqüências inevitáveis do envelhecimento. É possível prevenir a ocorrência de doenças crônicas e suas resultantes em qualquer nível, mesmo nas fases mais tardias da vida.

Diante desse quadro, como lidar com as demandas de saúde da crescente população de idosos?

O Ministério da Saúde promulgou uma política nacional de saúde da pessoa idosa que objetiva, no âmbito do SUS, garantir atenção integral à Saúde dessa população, enfatizando o envelhecimento saudável e ativo baseada no paradigma da capacidade funcional, abordada de maneira multidimensional. Contudo, o efeito prático dessa nova política ainda está longe de ser observado. A máquina assistencialista do SUS e a completa desarticulação de todo sistema de saúde do país emperram sua execução.

O fato é que muitos idosos apresentam uma série de problemas coexistentes e por conta disso, procuram inúmeros especialistas médicos na busca por sanar suas demandas de saúde. Essa procura desordenada resulta na sobrecarga do sistema de atendimento, aumentando o custo assistencial por conta do elevado número de consultas e exames, sem a contra partida da eficiência terapêutica.

Segundo Renato Veras Pesquisador e Professor de Medicina da UERJ , “políticas de promoção e prevenção de saúde têm se mostrado eficientes em todo o mundo. Estudos internacionais confirmam estas tendências e apontam uma redução na disfuncionalidade entre os idosos”.

Dados do PNAD entre 1998 e 2003, revelam que o número de consultas médicas se amplia de acordo com o crescimento do número de idosos e do surgimento de doenças crônicas, mas este mesmo estudo aponta para a melhoria da condição de saúde das pessoas com 60 anos ou mais.

Essa melhoria da condição de saúde se deu muito por conta a melhoria da tecnologia médica, do maior acesso aos serviços de saúde, das mudanças comportamentais, do aumento do nível educacional e do status socioeconômico dos idosos, conseqüência dos programas sociais de transferência de renda, do benefício de prestação continuada, da aposentadoria rural e do aumento do valor do salário mínimo.


Do ponto de vista comportamental então, nem se fala, o idoso brasileiro é pra lá de entusiasmado, no geral, os idosos não se adaptam a ócio e tem a maior disposição do mundo em se engajar em atividades individuais ou em grupo das mais diversas, desde atividades físicas como a famosa caminhada matinal, até freqüentar as salas de aula de uma escola ou faculdade.

Contudo, apesar da notada melhoria com relação ao estado de saúde dos idosos, se constata que um em cada três indivíduos, é portador de doença crônica e, entre os idosos, oito em cada dez possuem ao menos uma doença crônica, independentemente da classe social e de renda.

Para se alterar esse quadro é necessário implantar uma estrutura diferente das existentes atualmente e voltadas ao atendimento assistencial da população mais jovem. Tal estrutura deve operar de forma integrada com diversas disciplinas da medicina com foco na manutenção da capacidade funcional, em programas de prevenção, no investimento de metodologias para a detecção precoce de doenças, no monitoramento das doenças crônicas, no sistema do médico personalizado, entre outras medidas, em lugar do modelo de demanda espontânea que tem no hospital a peça central do sistema.

Ainda, segundo Renato Veras, “a ênfase das políticas de saúde voltadas a população idosa deve ser conferida à manutenção da capacidade funcional na busca da compressão da morbidade”. É necessário desenvolver estratégias que dificultem a instalação de doenças e retardem a evolução das doenças instaladas, “a fim de levar a vida para o limiar mais próximo possível do limite máximo da existência da espécie humana, mas com qualidade de vida, com autonomia e independência, ou seja, com capacidade funcional”.

Por esse prisma, em se mantendo os idosos o mais saudáveis possível, teremos uma menor pressão inflacionária sobre os custos de saúde das populações mais jovens, com reflexos mesmo no comportamento das demais gerações quanto à consciência da necessidade de se levar uma vida mais saudável e equilibrada do ponto de vista físico e psicossocial.

Na esfera privada, já há uma política definida para abordar a população idosa que está incluída em planos de saúde. A ANS editou resolução normativa número 265 em agosto de 2011 com o intuito de incentivar a participação dos beneficiários de planos de saúde nos chamados programas de envelhecimento ativo, mais ou menos nos mesmos moldes de uma das experiências bem sucedidas ocorridas nos Estados Unidos e na Inglaterra.

O programa está dividido em dois segmentos: Bonificação e Premiação. Para os que aderirem ao Programa de Envelhecimento Ativo, está previsto um desconto no valor da mensalidade do plano de saúde, para públicos específicos que aderirem programas de gerenciamento de crônicos, a premiação poderá se realizar através da redução do percentual de co-participação, da concessão de benefício farmacêutico, de outros produtos acessórios ao plano de saúde como o plano de Resgate Aéreo, por exemplo.

Algumas operadoras de saúde já oferecem programas de gerenciamento de pessoas com doenças crônicas, contudo, o número de atendidos ainda é muito pequeno face ao número de beneficiário nessa condição, além disso, não há programas estruturados especificamente ao público idoso sendo executado de forma sistematizada pela maioria das operadoras de saúde.

Este fato é preocupante, num futuro próximo o número de idosos das carteiras de clientes das operadoras de saúde será muito mais significativo o que tornará os custos assistenciais cada vez mais altos, colocando em risco a sobrevivência das operadoras de saúde que tardarem a tratar do público mais velho.

Outro ponto não menos importante é que as políticas que tratem de ações preventivas voltadas à conservação da boa saúde da população idosa e a manutenção de sua capacidade funcional, sejam estas públicas ou privadas, têm de ser articuladas com outras políticas assistenciais voltadas a população mais jovem, principalmente do ponto de vista educativo, com comunicação que resulte em engajamento das pessoas nos programas desenvolvidos a fim de atingir o objetivo de redução do número de doenças crônicas e suas conseqüências.

Se você tem interesse em discutir este tema importante ou tem alguma sugestão ou opinião, entre em contato comigo através do e-mail: beto@ilamp.com.br ou deixe seu comentário acessando http://mente-em-acao.blogspot.com/.

Um grande abraço,


Alberto Matos

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